Regresso a casa

Sabe bem regressar a casa quando nos perdemos de nós. Retomar ao abrigo com a convicção que pertencemos a algum espaço, a alguma coisa, mesmo que a sensação seja ingenuamente ilusória. Hoje tornei a casa e gostei de voltar. Confesso que senti falta de algumas coisas mundanas: o sofá da sala, os livros, o aconchego da cama…Mas sobretudo das imensas planícies a perder de vista, as que não alcanço da janela do meu prédio, mas que estão ali, logo a seguir a uma fileira de casas caiadas do outro lado da linha imaginária do horizonte.
Sabe bem despojarmo-nos dos problemas nesta intimidade tranquilizadora, no calor do nosso espaço, no refúgio temporário às agressões quotidianas do mundo exterior…Sabe bem regressar a casa, mesmo nos dias em que a sentimos vazia e os objectos exauridos de significado.
Regressei de uma viagem imaginária, de uma das muitas viagens interiores que faço de quando em vez. Confesso: não gosto de desaferrolhar fantasmas do passado e, muito menos, projectá-los no futuro. Mas, por vezes, é inevitável confrontarmo-nos com os nossos dilemas, os nossos medos… com as angústias que nos afligem os dias dourados tornando-os em cinzentos mortiços.
O tempo parou no relógio que me cansei de usar. Dá-me prazer a contemplação do nada. Sentir a brisa da noite a entrar pela varanda do quarto trazendo com ela os aromas da planície. Gosto do silêncio brando das paredes da casa, do amanhecer prematuro dos dias de estio e das sombras frescas das árvores que abraçam as paredes exteriores da minha guarida branca. Sei que hoje preciso respirar a casa, despejar o peso do universo por todas as divisórias para me libertar do cansaço latente que me persegue. Sei que a nossa casa é essencialmente um estado de alma e será sempre o lugar onde nos sentirmos confortáveis…Hoje pronunciei: “A minha casa és tu”… mas num tom moderado com receio que, na distância, pudesses ouvir a minha voz … Há palavras excessivamente perigosas que devemos guardar como um segredo e, não sei se estás preparado para ser a minha “guarida branca”.
Cerro os olhos…ao mesmo tempo que as silhuetas da casa se fecham sobre mim…é sempre um prazer regressar quando nos perdemos de nós…!
9 Comments:
Essinha, gostei mesmo de te ler. Realmente, a sensação de regresso a nós é indiscritível. Quando nos perdemos em pensamentos, quando tudo é questionável, quando o horizonte das nossas mentes não atinge a brandura da paz que nos rodeia, é bom que se retorne a nós, como quem regressa a um Porto Seguro.
Agora que já te re encontrei, vou colocar-te rectificada no meu espacinho... beijos muitos...e um abracinho :)
Como te entendo... eu também preciso de me encontrar! Beijos.
... mas fica-se sempre com a sensação que o regresso é apenas um intervalo entre duas viagens, não?
Magnífico texto ;)
Bjnhs
Texto muito bonito que retrata, com actualidade, um dos problemas que assolam hoje o ser humano dos grandes centros urbanos, mas que nós, por distracção ou comodismo, não estamos a valorizar como se impunha. Estou a falar da solidão, mas daquela solidão barulhenta e frenética. Estamos rodedos de muita gente, mas sentimo-nos por vezes tão sós. Daí a necessidade de nos recolhermos dentro de nós. A necessidade, como dizes, de voltar temporáriamente a casa. Sentimos, tantas vezes, o imperativo do silêncio, de estarmos sós e conversarmos connosco próprios.Tu sentiste essa necessidade e soubeste expressá-la para nós de forma brilhante. Como de costume.
aiiiiiiiiiiiiiiii já comentei no inicio da semana e não aparece nada!!!!!! Miuda tens que rever o teu blog... apenas passei para te mandar uma beijoka e desejar-te tudo de bom.
Ola Miuda. Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido de te ler, pois as nossas "conversas" nunca foram muito profundas. De qualquer forma, sempre me pareceste alguém que escondia mais do que mostrava e afinal parece que tenho razao. Passei aqui porque me mandaste um mail e a curiosidade ganhou. Quero só deixar-te com uma ideia : a vida nao se mede pelos nº de vezes que respiramos, mas sim pelo nº de vezes que ficamos sem folego. Um beijo.
Sabe bem ler-te... quando acabei o texto esta calminhaaaaaaaa
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