Sonhadora Inata

Não preciso de amigos que mudem quando eu mudo e concordem quando eu concordo. A minha sombra faz isso muito melhor. (Plutarco)

terça-feira, abril 24, 2007

Incoerências de um outro EU


Habito nas palavras quietas que me expressam e vagueio, em silêncio, por todos os seus corredores e sentidos. Tenho medo de acordar com a impaciência das palavras sentidas e com a imprudência dos corações que não dormem. Enrosco-me, neste desassossego só meu, nesta vontade de significados e de palavras que ficam por dizer, nesta incoerência de almas múltiplas e de espelhos partidos pela casa… Ás vezes, as palavras quietas incomodam, e os seus aguilhões penetram no corpo, como lanças aguçadas. Ás vezes, sinto que não sou eu que habito neste labirinto construído, enigmaticamente, por sentimentos que forjo, dentro de mim, para não me perder. De tempos a tempos, torna-se evidente que não sou eu. Não sou eu que sinto, não sou eu que respiro, não sou eu que apareço na visibilidade dos olhos dos outros; Vejo as cenas deste filme, do lado de fora, olhando para o ecrã da vida que um dia presumi minha, assumindo as incoerências, contingências e contradições de uma personagem sempre insatisfeita, mas suficientemente acomodada para não assumir a sua própria loucura.

Nada do que escreva ou faça mudará quem sou. Porém, existe uma multiplicidade de “EUS” a esgrimirem-se pelo seu lugar ao sol, sendo certo, que neste duelo, muitos ficarão, irremediavelmente, pelo caminho.

quinta-feira, abril 05, 2007

Escape

Conferimos à dor outros sentidos
Que não a dor de não sermos imortais.
Em silêncio, não escuto o tempo roçar no meu vestido,
Nas manhãs tingidas por chilreios de pardais.

E prossigo sem bússola, mapa ou rota
Deixando discorrer, no rubro das papoilas, o vermelho das horas
Se cintila, ao longe, a cidade, que me importa…?
Se adormeço entre o restolho e as amoras.

sexta-feira, março 16, 2007

Depois de algum tempo ...


"Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. Começas a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas. Começas a aceitar as derrotas de cabeça erguida e a olhar em frente, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
Aprendes a construir todas as tuas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair no vazio.
Depois de um tempo aprendes que o sol te queima se ficares exposto por muito tempo.
E aprendes que, não importa o quanto tu te importas, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceitas que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e tu vais ter de perdoá-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais. Descobres que demoras anos para construir confiança e apenas segundos para a destruíres... e que podes fazer coisas num momento das quais te arrependeras durante o resto da vida.
Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que tens na vida, mas quem tens na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprendes que não temos de mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam... Percebes que o teu melhor amigo e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida são roubadas da tua vida muito depressa... Por isso devemos sempre separar-nos das pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a ultima vez que as vemos.
Aprendes que as circunstâncias e os ambientes tem influencia sobre nós, mas que somos responsáveis por nós mesmos.
Começas a aprender que não te deves comparar com os outros, mas com o melhor que tu consegues ser.
Descobres que demoramos muito tempo a conquistar a pessoa que queremos ser, e que o tempo é curto.
Aprendes que não importa onde já chegaste, mas para onde estás indo... mas, se não sabes para onde vais, qualquer caminho serve...
Aprendes que, ou tu controlas os teus actos, ou eles te controlarão... e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprendes que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências.
Aprendes que ser paciente requer muita prática.
Descobres que algumas vezes a pessoa que esperas que te derrube, quando caíres, é uma das poucas que te ajudam a levantar.

Aprendes que maturidade tem mais a ver com as experiências que tiveste e o que aprendeste com elas do que com quantos aniversários já passaram por ti.
Aprendes que há mais dos teus pais em ti do que supunhas.
Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são loucuras... seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Descobres que só porque alguém não te ama da forma que queres que ame não significa que esse alguém não te ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém... Algumas vezes tens de aprender a perdoar a ti mesmo.
Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, serás um dia condenado.
Aprendes que não importa em quantos pedaços teu coração foi partido, o mundo não pára para que tu o consertes.
Aprendes que o tempo não e algo que possa voltar. Portanto, planta o teu jardim e embeleza a tua alma, em vez de esperares que alguém te traga flores.
E aprendes que realmente podes suportar... que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não aguentas mais.
E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor diante da vida! As nossas dúvidas são traidoras e fazem-nos perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar."
@utor - Shakespeare

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Sonhos urdidos no medo da noite…


...Pedaço d `Universo que de noite se faz
Quanto mistério e segredo esconde
E quanto amor proibido no seu seio s`apraz!?

Mas, outrossim, de tantos medos é fonte
Suas sombras, dizem, têm mil rostos de Satanás
Cujas bocas são grutas d`entes sem horizonte!

Explorando o pensamento menos audaz
Alimenta-se essa besta c`anda a monte
Que só aos velhacos e chupistas satisfaz
Já que, à luz da razão, não há quem n`encontre!

Pelo seu espaço move-se rapina voraz
O monstro dos sonhos que tudo consome
Enquanto o aguilhão dos tempos não desfaz
As trevas c`o Homem, p`lo medo, tornou bisonte!

@utor – Lucifer119

quarta-feira, janeiro 31, 2007

A apatia dos dias; a indolência dos sonhos...


O sonho desliza na gruta escura da noite
E crescem pedras em todas as árvores;
Jorram dos brejos ígneos, sombras argutas,
Cerceando a montanha indolente da vontade.

Deambula a fleuma nas espirais da inércia
Sem festa, cor ou brilho que a enleve,
Não há prazer nos olhos que se espreitam,
Não há pureza ebúrnea que nos cegue.

Encerro ainda, nas mãos, os aguilhões do tempo,
E guardo do caminho o pó que me ofuscou –
A eternidade será sempre o vão tormento
Do coração que, na indiferença, não sonhou!

O voo do flamingo


“Por vezes, os sonhos são tão altos … que nos esquecemos de saborear os momentos mundanos.”

terça-feira, janeiro 09, 2007

Subitamente

Subitamente, já não és…
Flutuas no dilúvio do Nada como uma folha seca de Outono
Sem rumo ou árvore que te prenda.
E eu, espreito a tua Morte pelas frestas da janela do Tempo,
Nesta lassidão de dias esgotados de Silêncio,
Onde as palavras gelaram na lucidez da Ausência.

Subitamente, já não és …
A flor, o sol e o vento sobre os teus cabelos cor de Fogo.
És apenas o riso contido no retrato,
Que a Terra deixou intacto, em troca do teu Corpo.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Ainda não é Natal ...

A minha memória é um livro quase branco,
Guardado na névoa húmida do tempo.
E a infância, camuflada sob um manto,
Dispersa-se na aragem fria de Dezembro.

Ainda não é Natal, mas há luzes nas áleas
Da minha cidade sem rosto e sem nome,
Onde os olhos negros e fundos da fome
Encerram o brilho fosco das faces pálidas.

E nada faz sentido entre o corrupio que consome,
E a criança que dorme no beco sujo e frio
Das madrugadas, em que o sonho ficou vazio,
Corrompido pela leviana fleuma do Homem.

Ainda não é Natal mas, em Dezembro,
as noites são mais longas e a miséria mais veemente… !