O Amor tem desta Solidão

Nos dias em que a solidão é mais funda
Quando não te encontro nas curvas da cidade
Por ruelas estreitas e miradas soturnas
Vou deixando vaguear as marcas da saudade.
Já não te oiço em dias como outrora
Gargalhando histórias de desígnios mansos
E já os astros dançam em boreal aurora
Amanhecendo os nossos íntimos recantos.
Já não te vejo na placidez da paisagem
És tão-só a sombra raiando a madrugada
O espectro exausto na fugaz miragem
Do desejo gasto em pedras da calçada.
Geme o murmúrio infatigável do afecto
Devolvido em ruas povoadas de silêncio
E procuro ainda na cidade um céu aberto
Para espraiar o sarro amargo a desalento.
Nos dias em que a solidão é mais intensa
Procuro-te aqui e em todos os lugares
Porque não sei viver da tua ausência
Sem a conivente plenitude dos olhares…