Esperas de Setembro

Espero por ti nesta tarde de Setembro,
Á hora tranquila em que a paisagem se ajeita e adormece.
E o corpo, como um guerreiro esgotado,
Deixa tombar do colo o livro decrépito do tempo.
Espero por ti e já não lembro
Porque sustento o baloiçar da cadeira,
Neste final de tarde com aroma a fruta e desalento e
Em que acalento no regaço o cansaço morno dos dias.
Quedo-me, esvaziada, nesta espera moribunda
De olhos lassos no acrílico horizonte
Perdida no letargo nostálgico das horas
Enquanto aconchego o sono e o sonho à mantilha cor de ausência.
No jardim das nossas memórias, as buganvílias definham,
E os chapins, deixam um rasto de bulício e saudade
Na copa plana das verdes macieiras.
É tão raro ver-te sair do crepúsculo das suaves tardes de fim de Verão,
Que chego a duvidar que seja Setembro
Para poder crer no teu regresso.
Por vezes, és tão-só a silhueta de um passado que deixei preso ao silêncio da renúncia.
Outras, a vontade esmagada contra o ventre da incerteza em que demoras,
Por entre as brisas tépidas que me anunciam a noite branca.
Todavia, muito além do contorno das sombras,
Sei que chegarás no fausto esplendor de tudo o que é ausente,
Nesta tarde demente em que te invento,
E em que o pôr-do-sol cinzela de fogo e prata a planície incandescente.